domingo, novembro 27, 2005

Garota de Ipanema

Vinicius de Moraes fez uma primeira versão para a letra desta música, que então se chamava "Menina que passa":
Vinha cansado de tudo / De tantos caminhos / Tão sem poesia / Tão sem passarinhos / Com medo da vida / Com medo de amar Quando na tarde vazia / Tão linda no espaço / Eu vi a menina / Que vinha num passo / Cheio de balanço / Caminho do mar

Mas nem Tom nem Vinicius gostaram da letra. Mais tarde, Vinicius fez a versão definitiva, inspirado pela graça de Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, que frequentemente passava em frente ao Bar Veloso (hoje chamado "Garota de Ipanema"), em Ipanema, na esquina das ruas Prudente de Morais e Montenegro (atualmente Rua Vinicius de Moraes). Tom e Vinicius eram presenças frequentes no bar, com mesinhas na calçada e um ótimo chope. Heloísa morava na Rua Montenegro 22, entre a Prudente de Morais e a praia. Dois anos e meio depois é que Heloisa soube que suas caminhadas pela Rua Montenegro haviam feito dela a musa desta canção com a revelação de Vinicius:

“Seu nome é Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, mas todos a chamam de Helô. Há três anos atrás ela passava, ali no cruzamento de Montenegro e Prudente de Morais, em demanda da praia, e nós a achávamos demais. Do nosso posto de observação, no Veloso, enxugando a nossa cervejinha, Tom e eu emudecíamos à sua vinda maravilhosa. O ar ficava mais volátil como para facilitar-lhe o divino balanço do andar. E lá ia ela toda linda, a garota de Ipanema, desenvolvendo no percurso a geometria espacial do seu balanceio quase samba, e cuja fórmula teria escapado ao próprio Einstein; seria preciso um Antônio Carlos Jobim para pedir ao piano, em grande e religiosa intimidade, a revelação do seu segredo. Para ela fizemos, com todo o respeito e mudo encantamento, o samba que a colocou nas manchetes do mundo inteiro e fez de nossa querida Ipanema uma palavra mágica para os ouvintes estrangeiros. Ela foi e é para nós o paradigma do bruto carioca; a moça dourada, misto de flor e sereia, cheia de luz e de graça mas cuja a visão é também triste, pois carrega consigo, a caminho do mar, o sentimento da que passa, da beleza que não é só nossa - é um dom da vida em seu lindo e melancólico fluir e refluir constante."


Olha que coisa mais linda Mais cheia de graça É ela menina Que vem e que passa Num doce balanço, a caminho do mar
Moça do corpo dourado Do sol de Ipanema O seu balançado é mais que um poema É a coisa mais linda que eu já vi passar Ah, porque estou tão sozinho Ah, porque tudo é tão triste Ah, a beleza que existe A beleza que não é só minha Que também passa sozinha Ah, se ela soubesse Que quando ela passa O mundo sorrindo se enche de graça E fica mais lindo Por causa do amor

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